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BAHIANA, PROFESSORA, FELIZ, AMA E ADMIRA A FAMÍLIA, ACREDITA NA CONCRETIZAÇÃO DOS SONHOS DITOS IMPOSSÍVEIS: ( BASTA TER FÉ E IR A LUTA.

FÉ....

HAVERÁ DIAS EM QUE... DEUS PERMITIRÁ QUE A TEMPESTADE TE ALCANCE...

MAS JAMAIS ESQUEÇA... ELE ESTARÁ AO TEU LADO, ATÉ QUE ELA SE VÁ!

sábado, 24 de novembro de 2012

A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA EJA


1 INTRODUÇAO
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) surge no cenário educacional contemporâneo como uma modalidade de grande relevância, pois representa uma alternativa para aqueles cidadãos que por diversos motivos foram excluídos da escola regular. Essa modalidade de ensino consolidou-se a partir dos preceitos da LDB 9394/96, da Resolução CNE/CEB Nº 01/2000 e do parecer CNE/CEB Nº 11/2000.
Competem à Educação do século XXI imprescindíveis transformações, tanto em suas teorias, quanto em suas práticas. Há que se constituir novos critérios e objetivos, em uma perspectiva mais humanista, centrada na pessoa humana.
Destaca, também, o relatório da UNESCO sobre a Educação para o século XXI, denominado relatório Delors, que destaca o aprender a viver como um dos quatro pilares em que deve assentar a Educação no novo século.
A EJA uma modalidade de ensino inclusiva, na essência de suas concepções e intenções, que aponta para seus alunos oportunidades de realizarem mais tarde seus aprendizados em tempo menor do que no ensino regular. Nela estão alunos de distintas faixas etárias, acima dos 15 anos de idade e seu contexto é caracterizado por distintas vivências e realidades sociais.  É um espaço educativo diferenciado pelas particularidades dos seus alunos, pois, são homens e mulheres, trabalhadores (as) empregados (as) e desempregados (as), ou em busca do primeiro emprego filhos, pais e mães, moradores urbanos de periferias, favelas e vilas. São sujeitos sociais e culturais, marginalizados nas esferas sócioeconômicas e educacionais. Privados do acesso à cultura letrada e aos bens culturais e sociais.  Após uma longa rotina de trabalho, vão para a escola, porém, a persistência em aprender sobressai ao desânmimo e sono, no entanto, a evasão dos alunos da EJA é habitual.
Pesquisas recentes revelam que nessa modalidade, é suma importância a relação professor aluno, pois em muitos casos, a afetividade, funciona como elo que os vincula a sala de aula.
Compreendendo isso, o objetivo desse projeto integrador é analisar a importância da afetividade no processo de ensino e aprendizagem da EJA.
Os objetivos específicos centram-se em:
  • Definir afetividade
  • Identificar nas principais obras educacionais e pedagógicas de Jean Piaget, Lev Semenovich Vygotsky e Henry Wallon referências sobre a influência da afetividade no processo de aprendizagem;
  • Descrever o contexto histórico da Educação de Jovens e Adultos;
  • Pontuar as contribuições de Paulo Freire para a EJA;
  • Relatar a importância da afetividade na relação professor – aluno na EJA;
No segundo capítulo, será apresentado o conceito de afetividade como também estudos aprofundados sobre o tema na visão de Jean Piaget, Henry Wallon  e Levi Vygotsky.
 
No terceiro capítulo, relatará o contexto histórico da Educação de Jovens e Adultos, o embasamento legal dessa modalidade, os sujeitos da mesma e as contribuições de Paulo Freire.
No quarto capítulo é referente à importância da afetividade na EJA, que se efetiva na relação professor/aluno e aluno/aluno.
 Para impetrar as informações imprescindíveis à realização desse trabalho, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, documental e de campo, visando obter dados que forneçam subsídios para o processo e aplicação do projeto. A partir de entrevistas realizadas com 10 alunos de uma Escola Estadual Regina Banhos Paixão, Linhares, ES, em turmas da EJA. Os resultados impetrados mostram o perfil de uma clientela com características específicas: na sua grande maioria, adultos, jovens e mulheres, que desejam dar continuidade ao processo de escolarização.
 
Portanto, a relevância desse estudo encontra-se em verificar a importância da mesma para a promoção do ensino aprendizagem mais eficiente, tanto para o educando, quanto para o educador. Sendo assim, propõe-se a afetividade como componente indissociável do processo de aprendizagem na modalidade Educação de Jovens e Adultos.
 
2 AFETIVIDADE
 
2.1 CONCEITO
 
Para discutir o tema afetividade faz-se necessário compreender a origem do termo “afetividade” e sua evolução histórica. Segundo AMARAL E OLIVEIRA (1998),
A partir do desenvolvimento da linguagem nomes foram concedidas as sensações de afeto, possibilitando sua demarcação e elucidação. No entanto ainda é difícil transmitir uma definição precisa devido a existência de um componente subjetivo, e, também, não existe uniformemente quanto a melhor termologia a ser empregada, para designar essas sensações. 
A palavra afeto vem do latim “affectus” que quer dizer afligir, abalar, atingir, então afetividade refere-se à disposição do ser humano de ser afetado e reagir com estados externos ou internos que a situação desperta, ora agradáveis, ora desagradáveis.
E de acordo com o Dicionário Aurélio (1994),
 O verbete afetividade caracteriza um conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sentimentos e paixões, acompanhados sempre da impressão de dor, insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou tristeza.
 
Cada ser humano traz intrínseco um amaranhado de sentimentos, estes por sua vez se manifestam de forma desordenada, e geralmente não conseguimos distinguir suas tendências, pois ora nos chorar e outrora nos fazem sorrir.
Segundo o dicionário técnico de Psicologia (CABRAL e NICK, 1999),
Afetividade é um termo utilizado para designar e resumir não só os afetos em sua acepção mais estrita, mas também os sentimentos ligeiros ou matizes de sentimentais de agrado ou desagrado, enquanto o afeto é definido como qualquer espécie de sentimento e (ou) emoção associada a ideias ou a complexos de ideias.
A afetividade é o amadurecimento dos sentimentos, ou seja, assim como a vida humana passa por fases e a cada fase ocorre à maturação, isto também sucede aos sentimentos, emoções. Aos sentimentos como emoções e paixões, que são temporários, nossas respostas são rápidas, á galope, pois são respostas orgânicas, visíveis em nossas ações, nossos gestos; todavia sentimentos afetivos de ordem psicológicas  geram estados afetivos duradouros.
Almeida (2002), discutindo o conceito de afetividade na obra de Wallon, diz-nos que:
 A afetividade está sempre relacionada aos estados de bem-estar e mal-estar do indivíduo, manifestando-se através das emoções, das paixões e dos sentimentos. A emoção é a forma de expressão da afetividade que se constitui em reações instantâneas e efêmeras que se diferenciam em alegria, tristeza, cólera e medo.
Como se analisa é complexa a conceituação dos fenômenos afetivos, pois existem grandes divergências quando o assunto é sua definição e é um tema que vem sendo muito debatido nos meios educacionais.
Embora os fenômenos afetivos sejam de natureza individual, isso não os torna independentes da ação do meio sociocultural, pois se relacionam com a particularidade das interações entre os sujeitos, enquanto experiências vividas.
Entende-se, então, por sentimento, uma reação claramente manifestada ante uma situação determinada. Por exemplo, ao dizermos: sentia ternura, começou a sentir ódio, estava com um sentimento de grande entusiasmo, neste caso a palavra sentimento define uma reação determinada que ocorra pela vivência do indivíduo. Ainda acrescentamos que, por sentimento, podemos entender também uma atitude emocional estável, um estado psíquico que se manifesta por uma tendência peculiar ante um círculo determinado de fenômenos da realidade (rejeição, atração ou orientação).
MOSQUERA, 1976 afirma que,
 A união entre a vida emocional e a intelectiva é algo sumamente importante e chamaríamos a atenção de que o ser humano age como um todo. Hoje temos maior consistência desta afirmativa, porque somos conscientes dessa unidade e complexidade, que conformam o ser humano.
Sem dúvida, a afetividade está organicamente vinculada ao processo de conhecimento, orientação e atuação do ser humano, no complexo meio social que o rodeia.
Sendo assim, com a intenção de um aprofundamento a mais no tema afetividade, serão retomados alguns pesquisadores que tratam do assunto de forma mais particularizada, para assim se compreender a importância do trabalho afetivo na sala de aula.
 
 2.1 JEAN PIAGET E O DESENVOLVIMENTO CONGITIVO E AFETIVO
Considerado um dos maiores gênios do século XX Jean Piaget, biólogo e pesquisador, tinha como fundamentação epistemológica uma visão indissociável da relação entre sujeito – objeto, ou seja, o conhecimento é construído por intermédio de relações entre o sujeito, o meio físico e o social.  É por meio da ação, que o sujeito parte para a construção de uma estrutura cognitiva, que se estabelece de forma contínua, organizada e equilibrada com o objeto.
Para compreender com mais clareza o papel das relações sociais para o desenvolvimento humano de acordo com Piaget é necessário destacar em cada etapa o aspecto da afetividade, conforme SOUZA E SILVA (2004 pg.6-7):
No estágio sensório motor, quando a afetividade instaura-se o estado de não diferenciação entre o eu e os construtos físicos e humanos, para na etapa seguinte imprimir trocas entre o eu diferenciado e o alheio. A etapa seguinte da evolução afetivo social é constatada no estágio pré-operatório, o sujeito apresenta vantagens outrora não percebidas: mobilidade mental, jogo simbólico e a linguagem. Fatores estes responsáveis pela configuração de novos afetos. No estágio das operações concretas o sujeito adquire uma personalidade individualizada, capaz de permiti-lo liberar-se em relação interdependências iniciais. Acontece então promoção de trocas afetivas e cognitivas equilibradas, como aspectos indissociáveis da conduta humana.
 
Piaget observou em suas pesquisas que para cada fase há diferentes organizações mentais e que estas viabilizam diferentes formas de interações do sujeito com a realidade que o cerca. Tais fases do desenvolvimento nomeadas por Piaget indubitavelmente contribuem para a compreensão do que ocorre cognitivamente com o sujeito da aprendizagem, pois a concepção do processo de desenvolvimento é primordial para o acesso de uma educação crítica.
Outro norte importante de suas pesquisas foi o aspecto afetivo na constituição do sujeito. Defendia a relação indissociável entre afetividade e cognição Conforme PIAGET (1977. P.45),
As construções intelectuais têm dois aspectos indissociáveis, o afetivo e o cognitivo. Enquanto o primeiro fornece condições internas de motivação para desenrolá-lo das ações e o segundo refere-se aos mecanismos de raciocínio, que possibilitam uma compreensão do que acontece nessas ações.
 
Logo, constata-se que a afetividade está em evidência na teoria piagetiana no que tange o desenvolvimento humano, oportunizando assim, uma aprendizagem mais significativa e auxiliando na descoberta do que interessa e motiva o aluno.
2.3 LEV SEMENOVICH VYGOTSKY E A INDISSOCIALIDADE ENTRE AFETIVIDADE E COGNIÇÃO
Outro autor que também enfatizou em suas postulações o processo do desenvolvimento humano e que além de abordar o aspecto cognitivo também mostrou como os aspectos da afetividade fazem parte da constituição do ser humano. 
Para Vygotsky as relações sociais são fundamentais para a promoção do desenvolvimento humano pleno, para isso a dimensão afetiva deve ser desenvolvida em conjunto com a dimensão cognitiva.
Segundo LEPRE (2008, pg. 315):
No que diz respeito às relações entre aprendizado e desenvolvimento, podemos afirmar que o pensamento Vygotskyano é o que oferece mais dado e possibilidades para uma intervenção pedagógica. O conceito de zona de desenvolvimento proximal oferece a pedagogia subsídios para pensar o papel de professor e de colegas mais experientes como mediadores no desenvolvimento das crianças. A zona de desenvolvimento proximal é formada pela distância entre o nível de desenvolvimento real, definido por aquilo que o sujeito consegue fazer sem a  ajuda de ninguém e o nível de desenvolvimento potencial definido pela capacidade de desempenhar tarefas com a ajuda de um membro mais experiente da cultura.
 
Com base nesses preceitos de zona de desenvolvimento real e zona de desenvolvimento proximal, o professor consegue montar estratégias de ensino para seus alunos, condizendo com o seu nível real e potencial além de ter-se a percepção da necessidade do outro para um procedimento efetivo de aprendizagem.
 Ainda de acordo com o pensamento vygotskyano a vivência social causa a aprendizagem, ou seja, a inteligência é formada a partir das relações de interação do homem com o meio.
As características especificamente humanas não estão presentes no indivíduo desde seu nascimento, tampouco apareceram somente devido às influências do meio exterior, elas são produtos da interação dialética do homem e seu meio sociocultural.
Vygotsky defendia que qualquer configuração de pensamento tem alicerce na dimensão afetiva e que não se podem dissociar as dimensões do afeto e cognição, no entanto, se faz necessário que essa relação seja examinada ao longo da história do desenvolvimento psicológico do homem.
 Nessa perspectiva de analogia entre cognição e afetividade, Vygotsky ressalta que a vida emocional está ligada a outros processos tais como: o conjunto cultural e as interações com outras pessoas, ou seja, sua teoria destaca a origem e desenvolvimento psicológico do homem em função do meio social em que vive e as relações com o outro, mediadas por instrumentos, signos e símbolos, onde o sujeito se constrói nas suas interações com o meio.
Segundo o autor, o pensamento tem origem no campo da motivação, qual abrange interesses, abalos, necessidades, afetos e emoção.
O pensamento propriamente dito é gerado pela motivação, isto é, por nossos desejos e necessidade, nossos interesses e emoções. Por trás de cada pensamento há uma tendência afetivo-volitiva, que traz em si a resposta ao último "por que" de nossa análise do pensamento. Uma compreensão plena e verdadeira do pensamento de outrem só é possível quando entendemos sua base afetivo-volitiva (VYGOTSKY, p. 129).
 
Diante das postulações expostas por Vygotsky sobre afetividade e cognição, está evidente sua indissocialização e a influência de uma dimensão a propósito de a outra. 
2.4 HENRY WALLON E A AFETIVIDADE NA PESSOA COMPLETA
 
Henry Wallon, estudioso francês, consagrou grande parte da sua vida ao estudo das emoções e da afetividade. Para ele, a afetividade é fator fundamental na constituição do sujeito. É entendida como instrumento de sobrevivência do ser humano, pois corresponde à primeira manifestação do psiquismo, embala o desenvolvimento cognitivo ao tentar conexões imediatas com o meio social. Esses instrumentos mediante os quais se desenvolverá o aprimoramento intelectual são garantidos por esses vínculos, estabelecidos pela consciência afetiva.
Meios de ação sobre as coisas circundantes, razão porque a satisfação das suas necessidades e desejos tem de ser realizada por intermédio das pessoas adultas que a rodeiam. Por isso, os primeiros sistemas de reação que se organizam sob a influência do ambiente, as emoções, tendem a realizar, por meio de manifestações consoantes e contagiosas, uma fusão de sensibilidade entre o indivíduo e o seu entourage. (Wallon, 1971, p.262)
 
O autor entende que a afetividade é um campo funcional e seu desenvolvimento depende circunstancialmente de fatores orgânicos e sociais; e defende que a primeira relação do ser humano ao nascer é com o ambiente social, ou seja, com as pessoas ao seu redor, especialmente sua famíla. Com isso, a afetividade passa a ser pela ação do meio social. A este respeito diz HENRY WALLON (1974, p.288),
[...] A constituição biológica da criança ao nascer não será a lei única do seu futuro destino. Os efeitos podem ser amplamente transformados pelas circunstâncias sociais da sua existência, onde a escolha individual não está ausente.
 
Ao estudar este campo tão complexo que são as emoções, Henry Wallon distingue o significado entre emoções e afetividade.
Na visão de WALLON (1968), “as emoções são manifestações de estados subjetivos, mas com componentes orgânicos”.
Conforme Wallon, a emoção é um fenômeno afetivo imediato, presente em muitas das situações de vida, têm pouca duração no tempo, se diferenciado de estados afetivos duradouros.  É a afetividade externada através da demonstração motora, através das atitudes expressas.
Em uma de suas exemplificações, ele elucida que contrações musculares ou viscerais, por exemplo, são sentidas e comunicadas através do choro, significando fome ou desconforto em que se encontra o bebe, ou seja, toda alteração emocional provoca alteração de tônus muscular:
Wallon identifica emoções hipotônicas, isto é, redutoras do tônus, tais como o susto e a depressão. [...] outras emoções são hipertônicas, geradoras de tônus, tais como a cólera e a ansiedade, capazes de tornar pétrea a musculatura periférica. (DANTAS, 1992, p.87).
 
O autor adverte que é de suma importância observar os gestos, a mímica, o olhar, a expressão facial, pois são constitutivos da atividade emocional. Entretanto no que diz respeito à afetividade, sua concepção é mais vasta, envolvendo uma gama maior de manifestações, onde se juntam sentimentos de origem psicológica e emoções de raiz biológicas. Assim, seria ela uma soma de fenômenos psíquicos que se despontam sob a forma de emoção, sentimentos e paixões acompanhados de dor ou prazer, satisfação ou insatisfação, marcados por estados afetivos duradouros.
Wallon defende que a afetividade e a inteligência são campos indissociáveis, pois segundo ele a inteligência nasce das emoções, isto é a inteligência se constrói em cada individuo graças aos primeiros momentos de fusão emocional que há na gênese da vida humana, e que o recém-nascido tem acesso a linguagem própria do seu meio. Esse primeiro acesso é completamente emocional, pois o que importa nesse momento é a tonalidade afetiva da linguagem. 
WALLON (apud ALMEIDA, 1999, p.51) destaca que:
A afetividade e a inteligência constituem um par inseparável na evolução psíquica, pois ambas têm funções bem definidas e, quando integradas, permitem à criança atingir níveis de evolução cada vez mais elevados.
Henry Wallon destaca que para o ser humano, a afetividade tem um papel fundamental em todo o decorrer da vida.
Com isso, em sua rica obra, Wallon enfatiza a importância de considerar a criança como um ser integral, onde dissociar campos que são endossáveis como a cognição e a
afetividade poderá afetar esse ser em todo o seu desenvolvimento, e fundamentalmente no campo da aprendizagem. 
 Portanto, ficou claro que segundo as concepções de Piaget, Vygotsky e Henry Wallon o aspecto afetivo e cognitivo são verdadeiramente campos indissociáveis e como tal necessitam ser trabalhados no sujeito de maneira coexistente. 
3 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
 
 3.1 CONTEXTO HISTÓRICO
Devido aos diversos fatores socioculturais e econômicos vários jovens, adultos e idosos da sociedade brasileira, estiveram por grande período de tempo sem acesso a um sistema de ensino formalizado, isso dificultou o desenvolvimento dos sujeitos em seus aspectos cognitivos e afetivos e, a consequência foi à perda da autoestima e a crença em si mesmo, na sua capacidade de aprender mesmo passado algum tempo.
A fim de elucidar com mais profundidade o contexto histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil, apresenta-se a trajetória dessa modalidade para melhor compreensão:
  •  Década de 30- A educação de adultos começa a delimitar seu lugar na história da educação no Brasil.
  •  Década de 40- Ampliação da educação elementar, inclusive da educação de jovens e adultos. Nesse período, a educação de adultos toma a forma de Campanha Nacional de Massa.
  •  Década de 50- A campanha se extinguiu antes do final da década. As críticas eram dirigidas tanto às suas deficiências administrativas e financeiras, quanto à sua orientação pedagógica.
  •  Década de 60- O pensamento de Paulo Freire, assim como sua proposta para a alfabetização de adultos, inspira os principais programas de alfabetização do país.
  •  Ano de 1964- Aprovação do Plano Nacional de Alfabetização, que previa a disseminação por todo o Brasil, de programas de alfabetização orientados pela proposta de Paulo Freire. Essa proposta foi interrompida com o Golpe Militar e seus promotores foram duramente reprimidos.
  • A história da educação de jovens e adultos no Brasil chega à década de 90 reclamando reformulações pedagógicas.
  • Ano de 1990- Acontece na Tailândia / Jontiem, a Conferência Mundial de Educação para Todos, onde foram estabelecidas diretrizes planetárias para a educação de crianças, jovens e adultos.
  • Ano de 1996- A Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB 9.394/96 dedica dois artigos (art. 37 e 38), no Capítulo da Educação Básica, Seção V, para reafirmar a obrigatoriedade e a gratuidade da oferta da educação para todos que não tiveram acesso na idade própria.
  • Ano de 1997- Realizou-se na Alemanha/Hamburgo, a V Conferência Internacional de Educação de Jovens, promovida pela UNESCO (Organização das Nações Unidas). Essa conferência representou um importante marco, na medida em que estabeleceu a vinculação da educação de adultos ao desenvolvimento sustentável e equitativo da humanidade.
  • Ano de 2000- Sob a coordenação do Conselheiro Carlos Roberto Jamil Cury, é aprovado o Parecer CEB/CNE nº.11/2000 , que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos. Também foi homologada a Resolução CNE/ CEB nº. 01/2000.
  • 2001 – Planos Nacional de Educação – Sancionado pelo Presidente da República – mantém a modalidade EJA –
O professor Paulo Freire teve importância imensurável ao novo paradigma teórico e pedagógico para a EJA.
3.2 EJA COMO MODALIDADE DE ENSINO – REFERENCIAL LEGAL
Conforme o parecer da Constituição Federal de 1988, incorporou como princípio que todo e qualquer educação visa: “O pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. (CF. art.205).
A Constituição Federal declara que todos os indivíduos são integrantes desse princípio, inclusive as jovens e adultos.
Há também o artigo 214 da Constituição Federal que alega claramente uma preocupação com a EJA que ressalta:
A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e a integração das ações do poder público que conduzem a: I erradicação do analfabetismo; II Universalização do atendimento escolar.
Além disso, há o amparo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9.394 que assegura:
Art. 37 - A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria.
§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e trabalho, mediante cursos e exames.
§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si, mediante exames.
Art. 38 - Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular.
§ 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão:
I. No nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de quinze anos;
II. No nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos.
§ 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos.
 
Assim também, Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação de Jovens e Adultos Parecer CNE/CEB nº. 11/2000, de 10/05/2000 Resolução CNE/CEB 1/2000, de 05/07/2000 – estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos em consonância á Lei nº. 10.172, de 09/01/2001 Aprova o Plano Nacional de Educação e da outras providências Capítulo 5 – Modalidade de Ensino Seção III – Educação de Jovens e Adultos.
Sendo assim, tanto Constituição Federal como a LDB e demais leis em vigor dão a EJA uma dignidade própria, mas ampla, uma educação multicultural, que desenvolva o conhecimento e integração a diversidade.
3.3 SUJEITOS DA EJA
A EJA é ambiente educativo diferenciado pelas particularidades de seus alunos. CURY (2000, pg. 35) observa: 
A rigor, as unidades educacionais da EJA devem construir, em suas atividades, sua identidade como expressão de uma cultura própria que considere as necessidades de seus alunos e seja incentivadora das potencialidades do que as procuram. Tais unidades educacionais da EJA devem promover a autonomia do jovem e adulto de modo que eles sejam sujeitos do aprender a aprender em níveis crescentes de apropriação do mundo do fazer, do conhecer, do agir e do conviver.
 
Os educandos da EJA são sujeitos ainda excluídos dos sistemas de ensino, em geral apresentam tempo maior de escolaridade, com repetências acumuladas e interrupções na vida escolar, daí a necessidade de considerar a realidade do aluno e incentivar sua capacidade de aprendizagem. Muitos nunca foram à escola ou dela tiveram que se afastar, quando crianças, em função da entrada precoce no mercado de trabalho ou mesmo a falta de escolas.
Uma realidade em que se torna indispensável à utilização de modelos de ensino atual em diversas contextualizações, bem como inovadores modelos pedagógicos transpostos em práticas distintas e efetivas, em suas reais considerações.
Acredita-se que a EJA esteja em um momento pedagógico de representatividade social, situação ímpar de aprendizado, pois possibilita a cada educando um espaço democrático de conhecimento, de auxílio de vivências aceitáveis nesse momento de discriminações sociais, objetivando uma ideação de sociedade menos desigual.
Como afirma CURY (2000):
A EJA contém uma função reparadora e está significa não só o ingresso no circuito dos direitos civis pela restauração de um direito negado: o direito a uma escola de qualidade, mas também o reconhecimento daquela igualdade ontológica de todo e qualquer ser humano.
 
Sendo assim, a EJA precisa ser pensada como um modelo pedagógico próprio, a fim de criar situações pedagógicas que satisfaçam as necessidades de aprendizagem dos jovens e adultos.
Para OLIVEIRA (1999),
EJA refere-se não apenas a uma questão etária, mas, sobretudo, de especificidade cultural. Embora, aconteçam definições pelo recorte cronológico, os jovens e adultos, deste campo educacional, não são quaisquer jovens e adultos, mas uma determinada parcela da população com características próprias e realidades de ensino muito distintas. O adulto para a EJA não é o estudante universitário, o profissional qualificado [...] ou a pessoa adulta interessada em aperfeiçoar seus conhecimentos em áreas como artes, línguas estrangeiras ou música, por exemplo [...].
Deste modo, o aluno da EJA é o indivíduo que teve seus direitos de ensino e de aprendizagem não estabelecidos em idades regulares. Assim, esta modalidade de educação deve possibilitar a mediação de um aprendizado que represente o componente de internalizarão de novos conceitos, a ressignificação de antigos saberes e dignidade em toda a vida.
Esses elementos se constituem nas analogias que o sujeito estabelece a partir da sua realidade, com a participação de respeitáveis educadores e na mediando essa inserção dos que se julgam excluídos.
3.4 CONTRIBUIÇÕES DE PAULO FREIRE PARA EJA
Paulo Reglus Neves Freire nasceu em Recife em 19 de outubro de 1921 e faleceu em 02 de maio de 1997. Licenciou-se em Direito, chegando a exercer advocacia. De 1941 a 1947 foi professor de português. Em 1959 doutorou-se em Filosofia e História da Educação. Foi professor de Filosofia e História da Educação em 1961, na Universidade de Recife.
 No ano de 1962, surgiu a primeira oportunidade para Freire disseminar suas teorias, quando instruiu 300 cortadores de cana a ler e a escrever em apenas 45 dias. A partir de então, sua presença era cotidiana em movimentos relacionados a educação. Participou de uma campanha de alfabetização de adultos nos Estados do Rio Grande do Norte e Pernambuco.
Em 1963, o então presidente João Goulart nomeou-o, Presidente da Comissão de Cultura Popular, entretanto, com o Golpe Militar de 1964, foi preso durante cerca de dois meses e exilado por quinze anos. Durante esse período, viveu no Chile.

O educador Paulo Freire é referência na área educacional em todo o mundo e devido a essa imensa contribuição á educação, e de modo especial à alfabetização de Jovens e Adultos, ele é conhecido como cidadão do mundo. As suas maiores contribuições foram no campo da educação popular, com um olhar totalmente voltado para a alfabetização e a conscientização política de jovens e adultos operários.
 A Pedagogia de Paulo Freire, baseada no afeto, na ética e principalmente no respeito ao outro, inspirou os principais programas de alfabetização e educação popular na década de 60.
Segundo PAULO FREIRE (1987, pg. 9):
Uma cultura tecida com a trama da dominação, por mais generosos que sejam os propósitos de seus educadores, é barreira cerrada ás possibilidades educacionais dos que se situam nas subculturas dos proletários e marginais. Ao contrário, uma nova pedagogia enraizada na vida dessas subculturas, a partir delas e com elas, será um contínuo retomar reflexivo de seus próprios caminhos de libertação; não será simples reflexo, se não reflexiva criação e recriação, um ir adiante nesses caminhos: método, prática de liberdade, que, por ser tal, está intrinsecamente incapacitado para o exercício da dominação. A pedagogia do oprimido é, pois, libertadora de ambos, do oprimido e do opressor.
 Precursor de um método autêntico de educação que identifica a alfabetização como um processo de conscientização, onde considerava o ato de educar um ato realmente político no qual por meio do ensino e da aprendizagem havia um compromisso assumido com o outro, para que cada indivíduo possa ser o sujeito da sua história. Paulo Freire não era um espectador da história do seu povo, de maneira que suas ideias trazem claras e explícitas as marcas da experiência vivida pelo Brasil nessas últimas décadas.
 A alfabetização seria a principal arma do sujeito, capacitando o oprimido e o opressor tanto para a aquisição dos instrumentos de leitura e escrita, quanto para sua libertação. Essa aprendizagem seria libertadora, integradora, crítica e ideológica.
Talvez seja esse o sentido mais exato da alfabetização: aprender a escrever a sua vida, como autor e como testemunha de sua história, isto é, biografar-se, existenciar-se, historicizar-se.
No tange o papel do educador, PAULO FREIRE (1987, pg. 10) ressalta:
[...] educador de vocação humanista que, ao inventar suas técnicas pedagógicas, redescobre através delas o processo histórico em que e por que se constitui a consciência humana.
Paulo Freire explicita claramente que educação vai além das metodologias, técnicas e currículos, antes dá ênfase às relações essencialmente humanas que estão implicadas na educação e nos processos educacionais, e isso se comprova quando afirma que:
 
Não há docência sem discência. [...], ou seja, quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. [...] Ensinar um aluno, é muito mais que simplesmente transmitir conhecimentos, é criar possibilidades para os alunos construírem seu conhecimento, de forma autônoma e crítica (FREIRE, 2003, pg. 13-16-25).
  
Quando a afetividade não está presente nas relações professor - aluno, o professor se vê como o centro do processo educativo e o aluno como o seu objeto a ser formado, não há uma mediação de saberes.  Nessa relação, ocorre o que Paulo Freire critica como educação bancária, um tipo de educação passiva e acrítica imposta aos alunos, na qual a prática pedagógica se reduz ao ato de depositar, transferir e transmitir valores e conhecimentos.
 
Com total aversão ao modelo de “educação bancária”, Paulo Freire alega que a relação professor-aluno em sala de aula deve estar em um mesmo patamar de igualdade, onde saberes são interagidos e ambos aprendem e crescem juntos e o pensar do aluno não pode ser inibido pelo pensar do professor, mas ser complementado por este.
A afetividade consente o fortalecimento do processo dialógico rompendo a relação de dominação de saberes e a atenção do professor diminui a distância entre o discurso e a prática, deixando transparecer verdades em seus ensinamentos. FREIRE (2003, p. 137-139), expõe:
 Saber ouvir o aluno é respeitar e valorizar a sua história, seus conhecimentos de mundo que traz consigo em sua bagagem cultural e discutir com eles a razão desses saberes em relação aos conteúdos ensinados. É ter humildade frente às diferenças e incompletudes dos alunos, seres em constante aprendizagem. É ter humildade para aceitar e saber dialogar com aquele que fala e /ou escreve de uma maneira diferente normas padrões da gramática. Ao reconhecer a leitura de mundo do aluno, o professor está valorizando o seu saber cotidiano.
 
Verifica-se que toda a obra de Paulo Freire é rica ao se pontuar a dimensão afetiva, pois em toda ela se acentua a questão do cuidado, da ética, do respeito, do interesse, empatia, promoção, amizade, vínculo, etc., ou seja, tudo o que promove no processo educativo, o potencial humano.
 
Portanto, com base nas pontuações retiradas das obras de Paulo Freire, confirma-se a afetividade relacionada ao ato de aprender.
 
4 A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA EJA
Ao refletir-se sobre os pressupostos pontuados nesse estudo, ficou evidente que a função afetiva é indissociável cognitiva para o desenvolvimento do ser humano, pois, de consonância com os autores: Piaget, Vygotsky, Wallon e Paulo Freire, para a dimensão cognitiva ser trabalhada, o aspecto afetivo necessita ser considerado, pois para estes autores, não existem comportamentos puramente cognitivos, ou seja, não existem estados cognitivos sem elementos afetivos. Na visão desses estudiosos, o sujeito deve ser compreendido na sua integralidade, como aluno e cidadão, cidadão este que transporta com sigo para a sala de aula todo o seu contexto social.
 E é nessa mistificação de contextos que prontamente a afetividade dever ser desenvolvida, trabalhada e valorizada na sala de aula. Essa habilidade nas relações se dará pelo exercício da reflexão, o reconhecimento de si, da autoestima, a inclusão, o respeito ao outro, etc., e isso se dará de maneira feliz e significativa na sala de aula da EJA, onde contextos diversos se vinculam.     Portanto, a aprendizagem é uma construção conjunta que depende do elo da afetividade.
 Segundo CURY (2000, pg. 10), aspectos afetivos são tratados na Educação de Jovens e Adultos:
Ela possibilita ao indivíduo jovem e adulto retomar seu potencial, desenvolver suas habilidades, confirmar competências adquiridas na educação extraescolar e na própria vida, possibilitar um nível técnico e profissional mais qualificado.
Nesta linha, a educação de jovens e adultos apresenta uma promessa de efetivar um caminho de desenvolvimento de todas as pessoas, de todas as idades. Nela, adolescentes, jovens, adultos e idosos poderão atualizar conhecimentos, mostrar habilidades, trocar experiências e ter acesso a novas regiões do trabalho e da cultura. Talvez seja isso que Comenius chamava de ensinar tudo a todos. A EJA é uma promessa de qualificação de vida para todos, inclusive para os idosos, que muito tem a ensinar para as novas gerações.
Desde modo verificamos que a afetividade indubitavelmente tem grande destaque na EJA, pois para se desenvolver as habilidades e competências dos indivíduos, toda ação está voltado para a afetividade e, quando essas habilidades são evolucionadas e as competências confirmadas, esse sujeito se sente mais valorizado, mais respeitado e junto, o cognitivo e o afetivo promovem o desenvolvimento integral do ser humano. Por isso, tanto o aluno quanto o educador tem um papel importante, pois no processo de construção do conhecimento, surgem oportunidades de compartilhar experiências, de expressar o respeito mútuo, o companheirismo mediante trocas afetivas, promovendo, assim, a socialização.
 O educador necessita refletir acerca do ato de ensinar, meditando que além de desenvolver habilidades cognitivas é preciso que os alunos sintam-se em condições de aprender. Nessa perspectiva, é necessário idealizar o aluno como um ser capaz e buscar opções que tornem o processo mais instigante. Sobre a relevância do educador no processo de ensino aprendizagem dos alunos da EJA, CURY (2000, pg. 61) salienta:
 
Muitos alunos da EJA têm origens em quadros de desfavorecimento social e suas experiências familiares e sociais divergem, por vezes, das expectativas, conhecimentos e aptidões que muitos docentes possuem com relação a estes estudantes. Identificar, conhecer, distinguir e valorizar tal quadro é o princípio metodológico a fim de se produzir uma atuação pedagógica capaz de produzir soluções justas, equânimes e eficazes.
 
Assim, mais uma vez a afetividade está em evidência no papel a ser executado pelo educador que deve conhecer bem o meio próprio do educando, pois somente conhecendo sua realidade e que promoverá à motivação necessária a aprendizagem, despertando nele entusiasmo para buscarem conhecimento.
Na escola o aluno não pode ser visto como mero espectador do aprendizado é necessário haver uma mediação envolvendo interação e nessa interação o aluno deve ser parte ativa nas trocas vivências e experiências ocorridas ao longo de sua história.
Atitudes afetivas são primordiais na interação professores e aluno e essa intercâmbio, essa interação certamente contribuirá para a premência do sujeito na EJA.
 Sobre essa interação, PAULO FREIRE (1996, pg. 141) diz que:
Ensinar exige querer bem aos educandos. Esta abertura ao querer bem não significa, na verdade, que, porque professor me obrigo a querer bem a todos os alunos de maneira igual. Significa esta abertura ao querer bem a maneira que tenho de autenticamente selar o meu compromisso com os educandos, numa prática específica do ser humano. A afetividade acha excluída da cognoscibilidade.
  
Educar transcende a mera apreensão ímpar com desenvolvimento cognitivo, está associado a correlações de afeto e o afeto trás alegria e alegria contagia o processo de ensino aprendizagem. PAULO FREIRE (1996, pg. 142) descreve:
 
A atividade docente de que a discente não se separa é uma experiência alegre por natureza. [...] A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo de busca. Ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria. [...] Amorosamente, acrescento.
 
Diante dos pressupostos descritos, fica evidente que a afetividade é intrínseca a todo o desenvolvimento do ser humano, possui um elo perene com a cognição e também contribui de maneira crucial para a formação e permanência dos sujeitos da EJA na escola.
 4.1 RELAÇÃO PROFESSOR / ALUNO
A escola é um espaço de vivências, de convivência, de interações e de relações pedagógicas, espaço constituito pela diversidade de ideias, valores e crenças e acima de tudo é uma instituição de carater essencial na formação dos indivíduos de uma sociedade. Sua função transcende o papel de contribuir somente para o desenvolvimento congnitivo do indivíduo, pois sua interceção é primordial para a formação da personalidade.
Todo trabalho envolve algum investimento afetivo por parte do trabalhador, quer seja na relação estabelecida com outros, quer mesmo na relação estabelecida com o produto do trabalho. Mas, o caso do professor é diferente, a relação afetiva é obrigatória para o próprio exercício do trabalho, é um pré-requisito. Para que o trabalho seja efetivo, ou seja, que atinja seus objetivos, a relação afetiva necessariamente tem que ser estabelecida. (CODO & GAZZOTTI, p.50,1999).




Na EJA, o vínculo é indispensável e quando é estabelecido o aluno sente-se mais forte, não se sente sozinho e este pode ser um grande estímulo para garantir sua permanência na escola. É papel de o educador estimular o estabelecimento desse vínculo, para que tenham um sentimento de pertencer à turma entendendo se como parte integrante e importante desta.
As atividades que exigem maior investimento de energia afetiva são aquelas relacionadas ao cuidado: estabelecer um vínculo afetivo é fundamental para promover o bem estar do outro. Para que o professor desempenhe seu trabalho de forma a atingir seus objetivos, o estabelecimento do vínculo afetivo é praticamente obrigatório. (CODO &GAZZOTI,1999p55)




Inserido nesse contexto escolar, para exercer sua verdadeira função, o professor precisa aprender combinar autoridade, respeito e afetividade, ao mesmo tempo em que estabelece normas, respeitando a individualidade e a liberdade de cada um. O educador necessita refletir sobre a visão muitas vezes míope e, perceber que a prática educativa pode ser vivida com afetividade e alegria sem, no entanto, negar a exatidão ética e científica, indispensáveis à prática pedagógica. COSTA SILVA (2006, p.12), ressalta:
 
A afetividade no processo educativo é importante para que a criança manipule a realidade e estimule a função simbólica. Afetividade está ligada à autoestima e às formas de relacionamento entre aluno e aluno e professor aluno. Um professor que não seja afetivo com seus alunos fabricará uma distância perigosa, criará bloqueios com os alunos e deixará de estar criando um ambiente rico em afetividade.
 
Isso não quer dizer que o professor goste de todos os alunos da mesma forma, mas que ele não deve consentir que sua afetividade interferisse na realização do seu dever de docente. Abertura ao querer bem significa disponibilidade para o afeto, para o Amor.
Segundo FREIRE (1983, p.29), “não existe educação sem amor. Ama-se na medida em que se busca comunicação, integração a partir da comunicação com os demais”.
 
É de suma importancia que o professor trabalhe interagindo com seu aluno, mediando-o na construção do seu conhecimento, pois é através de intervenções que ele alcançará sua autonomia intelectual. Sabe-se também que com um professor dinâmico e querido por seus alunos, o ensino torna-se mais atrativo, mais desafiador, garantindo uma aprendizagem real. Segundo LIBÂNEO (1994, p.250):
O professor não apenas transmite uma informação ou faz perguntas, mas tambem ouve os alunos. Deve dar-lhes atenção e cuidar para que aprendam a expressar-se, a expor opiniões e dar respostas. O trabalho docente nunca é unidirecional. As respostas e as opiniões dos alunos mostram como eles estão reagindo á atuação do professor, ás dificuldades que encontram a assimilação dos conhecimentos.
A relação professor aluno ocupa o centro do processo educativo, porquanto se confrontarmos dados de pesquisas averiguaremos que uma porcentagem referente à evasão escolar se deve a fatores intraescolares e é aqui que se encaixa a contribuição do professor.
 
A mediação do professor nesse processo é impressindível, e se encaixa perfeitamente ao analisarmos a teoria de Vygotky sobre a zona de desenvolvimento proximal, isto é, na distância entre o nível de conhecimento real e aquele que os alunos poderão construir com a ajuda de um mediador, e neste caso, um professor afetivo com seus alunos sem dúvida obterá maior êxito.
 No entanto, cabe destacar que a motivação e a interação para a aprendizagem dependem das estratégias didáticas, da qualidade das intervenções do professor e também do modo como planeja e utiliza certos recursos em suas aulas, como: metodologia de projetos, aulas, passeio, dramatização, lúdico, entre outros.
 Como é vivenciado que essa relação é conflituosa, e também é compreensível, pois é a sala de aula é um ambiente onde se encontra classes sociais, valores e culturas difentes. Por tudo isso, uma aula ministrada vai muito além de repasses de conteúdo, de conhecimentos, porque nessa troca de vivências,  é preciso incluir o teor emocional e afetivo, que não podem ser ignorados no processo de ensino aprendizagem. Para LIBÂNEO (1994, p.87):
Na aprendizagem escolar há influência de fatores afetivos e sociais, tais como os que suscitam a motivação para o estudo, os que afetam as relações professor alunos, os que interferem nas disposições emocionais dos alunos para enfrentar as tarefas escolares, os que contribuem ou dificultam a formação de atiutudes positivas dos alunos frente ás suas capacidades e frente aos problemas e situações da realidade e do processo de ensino e aprendizagem.
 
Na atualidade, a escola parece passar por um momento de decadência, e aquele caminho de pedrinhas de brilhantes que levava ao conhecimento, parece ter perdido o significado. Em meio a essa problemática, ou seja, essa falta de um norte, o professor pode encontrar a válvula de escape investindo na afetividade.
 No que tange as implicações sobre a influência da afetividade no processo de ensino aprendizagem a mesma é considerada elemento ativo nesse processo e o promove, pois se o aluno tem um relacionamento interativo com o professor, ideias e experiências serão trocadas, não terá dificuldade em expor suas opiniões e nessa mediação o docente poderá contribuir para essa construção de conhecimento e tornar a relação entre os dois menos conflitantes. LIBÂNEO (1994, p.56), explica que:
O ato pedagógico pode ser então definido como uma atividade sistemática de interação entre seres sociais tanto no nível do intrapessoal como no nível de influência do meio, interação esta que se configura numa ação exercida sobre os sujeitos ou grupos de sujeitos visando provocar neles mudanças tão eficazes que os tornem elementos ativos desta própria ação exercida [...].
 
Para amenizar essa tormentosa relação professor aluno, que dar ares de ter como slogan a intolerância, a resposta pode ser a mais simples e singela: afetividade. Faz necessária essa preocupação em “afetar” positivamente os alunos, oportunizando momentos e espaços adequados á interações sociais capazes de promover o desenvolvimento do sujeito em todas as suas dimensões. LIBÂNEO (1994, p.249), ressalta claramente a importância dessa afinidade ao relatar que:
As relações entre professores e alunos, as formas de comunicação, os aspectos afetivos e emocionais, a dinâmica das manifestações na sala de aula fazem parte das condições organizativas do trabalho docente.
 
Sendo assim, aquele primeiro momento em que o professor adentra a sala a comunicação com os alunos é um momento crucial, pois será despertado naquele instante o gosto ou a aversão pela disciplina, e se verdadeiramente houver afeto, a aprendizagem com certeza tornar-se a mais receptiva e significativa. Para tanto, o docente deve acreditar, querer e buscar educação mais humanística.
CONCLUSÃO
Este trabalho tem como objetivo identificar a importância da afetividade para as práticas pedagógicas, especialmente na Educação de Jovens e Adultos.
 Como vimos, na teoria e na prática, as interações entre os docentes e os alunos não se limitam apenas aos aspectos cognitivos. Elas são saturadas de afetividade e esta orienta o processo e pode se tornar aliada de qualquer professor. Cabe ao educador compreender que uma das contribuições para o sucesso escolar desses sujeitos é o estabelecimento da afetividade entre educando e educador.
 As práticas pedagógicas na EJA precisam revelar atos educativos e intenções de aprendizagens para uma diversidade de conceitos e intencionalidades do docente e também é preciso implementar metodologias educacionais que contribuam para a socialização.
Evidencia-se após este estudo, que os sujeitos jovens e adultos frequentadores da EJA na Escola Regina Banhos Paixão, vivenciaram a exclusão da escola em alguma ocasião de sua vida. Na chegada a sala de aula, fica manifesta o constrangimento pela baixa escolaridade e é nesse tão singelo momento que o professor será a alavanca para a permanência desse aluno na sala de aula. Através dessa pesquisa efetivada na EJA da referida escola, constatou-se que a afetividade foi fator primordial para a permanência de discentes na escola.
 O diálogo estabelecido entre professor e aluno é fator importante no processo de aprendizagem, visto que forma elos afetivos que despertam a autoestima, o interesse e a motivação. Para que o professor conheça bem seus alunos, é necessário que não negligenciem os aspectos afetivos. É preciso ter sensibilidade para ouvi-los, dialogar com eles e apoiá-los para que busquem superar as suas dificuldades.
 Portanto, em busca de dias melhores para a aprendizagem, Pedagogos, diretores e professores necessitam propor a afetividade como uma ferramenta de trabalho no cotidiano escolar e indubitavelmente, na EJA.
 
 
8 REFERÊNCIA
BRASIL. Diretrizes curriculares nacionais para a Educação de Jovens e Adultos. Parecer CNE/CEB 11/200. Disponível em: <HTTP://portalmec.gov.br
Brasil. Lei 9.394 – LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: Senado Federal, 1996.
DANTAS, Heloysa. Afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon. In: DE LA TAILLE, Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
_____, Paulo. Pedagogia do Oprimido: Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005
GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
 
LIBÂNEO, José Carlos. Didática.São Paulo: Cortez Editora, 1994.
OLIVEIRA, Marta Kohl de. Jovens e Adultos como Sujeitos de Conhecimento e Aprendizagem. 1999.
PIAGET, J.(1932/1994). O juízo moral na criança. E. Leonardon, Trad. (2a ed.). São Paulo: Summus.
VYGOSTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. Martins Fontes - São Paulo. 5ª edição, 1994.

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